Literatura de cordel é um tipo de poesia popular, originalmente oral, e depois impressa em folhetos rústicos ou outra qualidade de papel, expostos para venda pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome que vem lá de Portugal, que tinha a tradição de pendurar folhetos em barbantes. No Nordeste do Brasil, herdamos o nome (embora o povo chame esta manifestação de folheto), mas a tradição do barbante não perpetuou. Ou seja, o folheto brasileiro poderia ou não estar exposto em barbantes. São escritos em forma rimada e alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, o mesmo estilo de gravura usado nas capas. As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. Os autores, ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, acompanhados de viola, como também fazem leituras ou declamações muito empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores.
Xilogravuras
Xilogravuras do século XVI ilustrando a produção da xilogravura. No primeiro: ele esboça a gravura. Segundo: ele usa um buril para cavar o bloco de madeira que receberá a tinta
A Grande Onda de Kanagawa.Xilogravura é a técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado. È um processo muito parecido com um carimbo.
É uma técnica em que se entalhar na madeira, com ajuda de instrumento cortante, a figura ou forma (matriz) que se pretende imprimir. Em seguida usa-se um rolo de borracha embebecida em tinta, tocando só as partes elevadas do entalhe. O final do processo é a impressão em alto relevo em papel ou pano especial, que fica impregnado com a tinta, revelando a figura. Entre as suas variações do suporte pode-se gravar em linóleo (linoleogravura) ou qualquer outra superfície plana. Além de variações dentro da técnica, como a xilogravura de topo.
História
A xilogravura é de provável origem chinesa, sendo conhecida desde o século VI. No ocidente, ela já se afirma durante a Idade Média. No século XVIII duas inovações revolucionaram a xilogravura. A chegada à Europa das gravuras japonesas a cores, que tiveram grande influência sobre as artes do século XIX, e a técnica da gravura de topo criada por Thomas Bewick.
No final do século XVIII Thomas Bewick teve a idéia de usar uma madeira mais dura como matriz e marcar os desenhos com o buril, instrumento usado para gravura em metal e que dava uma maior definição ao traço. Dessa maneira Bewick diminuiu os custos de produção de livros ilustrados e abriu caminho para a produção em massa de imagens pictóricas. Mas com a invenção de processos de impressão a partir da fotografia a xilogravura passa a ser considerada uma técnica antiquada. Atualmente ela é mais utilizada nas artes plásticas e no artesanato.
Xilogravura popular brasileira
A xilogravura popular é uma permanência do traço medieval da cultura portuguesa transplantada para o Brasil e que se desenvolveu na literatura de cordel. Quase todos os xilogravadores populares brasileiros, principalmente no Nordeste do país, provêm do cordel. Entre os mais importantes presentes no acervo da Galeria Brasiliana estão Abraão Batista, José Costa Leite, J. Borges, Amaro Francisco, José Lourenço e Gilvan Samico.
CHAPEUZINHO VERMELHO (Literatura Infantil recontada: em Cordel)
Por: Rosa Ramos Regis - Natal/RN
Há muito e muito tempo
Havia uma menininha
Meiga, carinhosa, doce,
Que morava com a mãezinha
Numa casinha distante
Da casa da vovózinha.
E sempre que a sua mãe,
O que amiúde ocorria,
Fazia doces gostosos,
A menininha pedia:
- Me dá a colher, mamãe!
E com grande prazer lambia.
E pedia a sua mãe:
- Mamãe, deixe-me levar
Uns bolinhos p’ra vovó
Antes mesmo de esfriar.
Eles estão tão gostosos!
Ela iria adorar.
A mamãe, pensando um pouco,
Lhe diz: - Filha, não dá certo!
Sua vovó mora longe
E eu soube que aqui por perto
Anda um lobo faminto,
Perigoso e muito esperto.
Ele poderá atacá-la
Pois a estrada é deserta
E a casa da sua avó
É no meio da floresta
Onde o mesmo poderá
Está escondido, na certa.
Mas a menina lhe diz:
- Mamãezinha, eu sou esperta!
Já estou com sete anos.
Já sou grande. E fico alerta
A qualquer que seja o ruído
Pelo meio da floresta.
A mãe cedeu e, então,
Na cabeça dela botou
Uma capinha vermelha
Que a sua avó tricotou
E que o nome “Chapeuzinho
Vermelho” lhe ofertou.
E “Chapeuzinho” , pulando
E cantando alegremente,
Lá se foi pela floresta
Sem nada lhe vir à mente
A não ser o fato de
Estar feliz e contente.
De repente... ouve uma voz
Que lhe chama bem baixinho...
É o lobo, que finge ser
Um animal manso e bonzinho
Que apenas quer conhecer
A menina “Chapeuzinho.
Pergunta aonde ela vai
E ela, inocentemente,
Diz ir visitar a avó
Que mora mais adiante
Numa casinha amarela
Com um jardinzinho na frente.
E o lobo já satisfeito
Com a informação que colheu
Da inocente menina,
Se despediu e correu
Para a casa da avózinha
A quem, de pronto, comeu.
Foi chegando e foi batendo
Na portinha da vovó
Dizendo: - Eu sou Chapeuzinho
Venha aqui vovó, vê só
Os bolinhos que eu lhe trouxe
E o meu cachorrinho Totó!
E quando a vovó abriu
A porta, se espantou!
Quis correr porém o lobo
Tão logo a viu, a agarrou
E a engoliu, inteirinha,
Nem sequer a mastigou.
E aí, falso que era,
Com a roupa da vovó,
Seus óculos e sua touca,
Na cama, escutem só,
Deitou-se e depois cobriu-se
Dos pés até o gogó.
É quando a menina chega,
Cantando, toda faceira,
Trazendo um feixe de flores
Que na floresta colhera
Para a vovó, sem saber
Que fizera grande asneira.
Pois que, inocentemente,
Fornecera ao inimigo,
O endereço da avózinha
Sem perceber o perigo
Que uma e outra corriam.
Parecia até castigo.
Castigo por não seguir
Os conselhos que recebeu
Da mãezinha quando ela,
Chapeuzinho, acolheu
Informações mentirosas
Que um estranho lhe deu.
Mas, sem de nada saber,
Bate na porta contente
Chamando pela vovó
Empunhando, alegremente,
As belas flores colhidas
E o bolo ainda quente.
E o lobo que tomara,
Na cama, da avó, o lugar,
Diz assim: - Entre netinha!
Não posso me levantar.
Estou fraca, doentinha,
Quase não posso falar.
E Chapeuzinho, inocente
Que é, entra sem temor
Mas, ao vê-la, estranha um pouco:
- Vovó, o que se passou?
A Senhora está mudada
Em tudo. Até na cor.
Seu corpo está diferente.
Sua cabeça também.
Pés e mãos, unhas e dedos.
Parece mais sabe quem?
Um lobishomem, vózinha!
Mesmo assim te quero bem.
- Mas, p’ra que esses olhos grandes?
Pergunta-lhe Chapeuzinho.
- São para te ver melhor!
Diz o lobo sem carinho.
- E esse nariz tão grande?
Nariz não! Isso é focinho!
- É para sentir o cheiro
Da comida deliciosa
Que está na minha frente.
Diz o lobo todo prosa.
E Chapeuzinho se afasta
Já um pouco receosa.
- E essas mãozonas grandes
E peludas, p’ra que são?
Lhe inquire a menina já
A pulsar-lhe o coração.
O lobo responde, cínico:
- Elas te segurarão.
- E essa bocarra enorme
Com dentes de arrepiar?
Diz o lobo: - É com ela
Que eu vou te abocanhar,
Te mastigar e engolir,
Para minha fome matar.
E dizendo isto, o lobo
Saltou da cama e atacou
A menina, e ela correu
O mais que pode, e parou
Tão somente quando um homem
Seu caminho atravessou
Era um caçador que vinha,
Há dias, a procurar,
Em caçada, aquele lobo
E, ao vê-lo se aproximar,
Livra a menina e atira
Para o bicho derrubar.
E o lobão, que pensava
Que naquela fantasia
De “Vovó da Chapeuzinho”
A todos enganaria,
Cai na mira do caçador
Que não erra a pontaria.
Mas, p’ra sorte do malvado,
O caçador atirou
Apenas p’ra derrubá-lo.
E o seu intento alcançou.
O lobo caiu gemendo
E blasfemando com a dor.
E da enorme barriga
Do lobo, o caçador
Ouve uma voz que implora:
- Socorram-me, por favor!
É a voz da vovózinha
Que o lobão degustou.
E aí chega Chapeuzinho,
Que já parou de correr
Com medo do lobo, mas,
Com o corpo ainda a tremer,
Pedindo ao caçador
Para a sua avó socorrer.
E o caçador que, coitado!
Não quer o lobo matar,
Busca alguém no povoado
Que possa lhe ajudar,
E surge um veterinário
Disposto a cooperar.
E munido de um bisturi
Faz una boa incisão,
De onde tira a vovózinha,
Na barriga do Lobão,
Fechando-o logo em seguida
Como um bom cirurgião.
E, assim, salva a vovózinha
Sem, também, sacrificar
O Lobo Mau que é apenas
Um animal, e que irá
Ser devolvido ao Zoológico
Quando a barriga sarar.
Afinal, passado o susto,
Chapeuzinho então lembrou
Para que viera ali
E para a vovó mostrou
A cestinha com os bolinhos
Que, a esta altura, esfriou.
E a vovó, agradecida,
Convida o caçador
Para, junto os três, comerem
Bolinhos. E ele topou.
E, com suco de laranja,
Comem. E a estória acabou.
Acabou com tudo bem!
Como deve sempre acabar
Uma estória para crianças
Que estão a se formar.
E outras estórias virão:
Recontadas ou criação,
Com o intuito de educar.
...
Recriei para as crianças,
Ou melhor, cordelizei,
Só transformando um pouquinho
A estória. E busquei
Regar com um pouco de humor
Aquilo que transformei
Mas não sei se me saí bem
Ou mesmo se a ninguém
Sequer um pouco agradei.
Rosa Regis
Publicado no Recanto das Letras em 10/05/2006
Código do texto: T153457
Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br/cordel
A LENDA DO CURUPIRA
Criado pelos índios tupi-guaranis, sou parte do folclore
Para quem não me conhece, vou me apresentar agora
Como tenho dois nomes, na escolha colabore
Posso me chamar Curupira ou me chamar Caipora
À noite, ando pelas matas e florestas sozinho
Porque da natureza sou protetor e guardião
Posso também estar montado em um porco-espinho
Pois todo tipo de bicho é como um irmão
Meus dentes são verdes e meus cabelos, vermelhos
E, para despistar qualquer caçador malvado,
Virados para trás são meus pés e meus joelhos
E assim minhas pegadas parecem vir do outro lado
Se alguém derruba uma árvore com um machado
Ou mata um bicho sem motivo, só por besteira
Fico muito bravo e dou fim nesse danado:
Faço cócegas até ele morrer de coceira.
Por isso quando for ao parque ou à fazenda
Lembre do meu recado: Respeite a natureza
Mas não tenha medo pois sou só uma lenda
E não lhe farei mal, com toda a certeza.
Cordel Infantil Contra a Dengue
O site do cordelista Tárcio Costa conta agora com o espaço da literatura de cordel infantil. Aqui você encontra as mais belas histórias criadas pelo artista, assim como temas voltados a educação e cultura dos baixinhos. O poeta possibilita ainda aos pais e professores a encomenda de cordeis personalizados, ou seja, com temas pré-definidos.
Nesse caso basta entrar em contato pelo e-mail :\ncontato@tarciocosta.com.br
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O cordel contra dengue
Vamos falar de um assunto
Que é mesmo muito importante
Temos que ser rapidinhos
Não perder nenhum instante
Pois na guerra contra a dengue
Nunca se faz o bastante
Os ovinhos do mosquito
Você pode encontrar
Bem ali no seu quintal
Em tudo quanto é lugar
Basta que tenha lixinho
Que água possa acumular
Pneus velhos e garrafas
Se não forem bem guardados
Servirão de criadouros
Dos mosquitinhos danados
Que uma vez picando a gente
Deixa-nos adoentados
Seja em casa ou na escola
Temos que tomar cuidado
Pois nos vasos das plantinhas
Deve ser depositado
No lugar da água areia
Que dá melhor resultado
Avisemos aos papais
Para em casa procurar
Limpar muito bem as calhas
E as caixas d’água lavar
Nessa luta contra a dengue
Todos devem ajudar
Faça então a sua parte
E convide seu vizinho
Nossa união faz a força
Contra esse mosquitinho
É nosso dever cuidar
Da saúde com carinho
Mãe Natureza
Esse pequeno poema
Fala da mãe natureza
De toda sua importância
E também sua beleza
Um tesouro valioso
A nossa maior riqueza
Toda criança já sabe
Mas não custa reforçar
Vivemos no planeta terra
Esse é o nosso lugar
E o meio ambiente
Nós devemos preservar
Devemos pois entender
Que não estamos sozinhos
Pois aqui existem rios
Onde moram os peixinhos
E também as nossas matas
Lugar de outros bichinhos
Então vamos todos juntos
Contra a poluição
Erguer a nossa bandeira
Que é a da preservação
Consciência na cabeça
E a paz no coração
Cordel da Família
Essa quadrinha inspirada na literatura de cordel foi escrita pelo poeta cordelista
Tárcio Costa para as crianças da Casa da Sopa de Araraquara.
Minha família é assim
Outras famílias assado
Mas família hoje é bom
Como era no passado
Eu amo minha família
Da cabeça até o pé
Toda família é gostosa
Do jeitinho que ela é
Tem família que é grande
E família que é pequena
Tem família só de dois
E mesmo assim vale a pena
Vamos amar a família
E guardar bem lá no fundo
O mais belo dos tesouros
Que Deus nos deu nesse mundo!
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